ILUSTRAÇÃO DE PROCESSO EVOLUTIVO

O texto que se segue não é novo, mas sim foi produzido por mim ainda na Segunda Metade de 2002, para um dos diálogos, no caso Meus Comentários às Respostas de Frank de Souza Mangabeira, que tentam solucionar as Questões Simples que o Criacionismo Não Responde. Estando mais especificamente Aqui.

Como o texto foi bem recebido até mesmo por eminentes Criacionistas, e considerando que sempre esteve um tanto oculto em meu site, é justo que agora ocupe, finalmente, um local de destaque.

Trata-se de uma ilustração fictícia, poderíamos chamá-lo seguramente de Ficção Científica, mas de modo a espelhar a idéia evolutiva de Especiação de um modo simples, sem exigir maiores conhecimentos de Biologia, idealizando animais imaginários mas perfeitamente plausíveis.

Assim, espero com este texto, responder algumas questões básicas sobre a Evolução e desfazer equívocos e mitos comuns que vêem o processo eolucionário como algo absurdo e incoerente, mostrando que os conceitos são, apesar de bastantes avançados, simples e inteligíveis para qualquer pessoa disposta a estudá-los.

Marcus Valerio XR
02 de Novembro de 2004


Para evitar repetir exemplos clássicos de livros ou usar exemplos reais, formularei um raciocínio que ainda que hipotético, reflete bem a maneira como a Biologia entende o processo de especiação.

Imaginemos uma ilha onde há uma extensa planície de vegetação rasteira ao centro, uma floresta a oeste e formações arenosas a leste. Entre outras espécies, vive um tipo de felino de tamanho médio que chamaremos Grifon, devido a um tipo de juba nas costas que lembrariam assas.

Esses Grifons possuem um tamanho médio, e variam naturalmente cerca de 20% para maior ou menor, assim como pode ser observado em qualquer animal. Também a cor de seu pelo, normalmente amarela, varia para um amarelo claro ou escuro.

Essas variações se dão devido a Deriva Genética, o fato de que cada espécie produz descendentes ligeirmente diferentes de si, ou filhos seriam absolutamente idênticos aos pais. Isso ocorre devido ao processo de cruzamento resultar em misturas de genes, informações sobre as características da espécies, que sempre podem trazer novidades.

Os Grifon maiores e mais pesados são mais fortes, os menores e mais leves são mais ágeis e rápidos. Eles podem caçar herbívoros grandes ou pequenos. Os maiores preferem pegar os grandes, que também são mais lentos, os menores preferem não enfrentar o herbívoros grandes, mas sim caçar os menores que são também mais rápidos. Os de tamanho médio possuem uma gama de opções maior.

A cor de pêlo amarela favorece o mimetismo a luz do dia, a capacidade de se disfarçar no ambiente e surpreender a caça, cores mais escuras favorecem o desempenho em períodos menos iluminados do dia, e as cores mais claras são menos vantajosas.

Porém a espécie está muito bem adaptada ao ambiente, de modo a ser estável. A maioria dos indivíduos apresenta a pelugem amarelada média e o tamanho médio, sendo que os escuros, claros, pequenos e grandes constituem parte minoritária da população, pois a Seleção Natural favorece a média.

Então numa certa época, devido ao movimento de placas, e erupções vulcânicas, a ilha acaba por se dividir, separando a população de Grifons, que ficam isoladas em ilhas distintas.

Na ilha Oeste a vegetação é mais alta e mais escura, ficando mais próxima a uma densa floresta, na ilha leste a vegetação é ainda mais rasteira, se aproximando de formações de areia clara. Com isso, as populações estarão agora submetidas a condições ambientais diferentes.

O ambiente da ilha Oeste favorece os indivíduos de pelo mais escuro, e de tamanho menor, pois a vegetação é mais emaranhada, e dentro da floresta não há grandes herbívoros mas sim pequenos.

Na ilha Leste a vegetação mais baixa e as planícies arenosas favorecem os indivíduos de pelo mais claro, assim como a presença de muitos herbívoros grandes favorece aos Grifons maiores e mais fortes.

Em ambos os casos, a Seleção Natural deixa de favorecer a média, e passa a favorecer os extremos. Antes, um indivíduo 20% maior tinha mais dificuldade em obter comida, agora, na ilha Leste passa a ter mais facilidade, e vice-versa.

Esses indivíduos dos extremos, que antes viviam menos, em piores condições e tinham menos chances de se reproduzir, agora passam a se beneficiar dos ambientes em que estão. Em algumas dezenas de anos, na ilha Oeste, o tamanho menor deixa de ser minoria para ser maioria, e o tamanho grande praticamente não tem chances de sobrevivência, sendo então eliminado. Temos então na ilha Oeste uma população de Grifons menores e de pelo escuro, e que também passa a cada vez mais adquirir hábitos noturnos.

Por outro lado na ilha Leste, passa a haver Grifons maiores e de pele mais clara, de hábitos diurnos. O Grifon em sua forma original, tamanho médio e pelo amarelo em tom mediano, acaba sendo extinto.

Centenas de anos depois, as diferenciações vão se acentuando. Antes um tamanho 10% menor já era pouco comum, 20% era raro, e menor que isso praticamente inexistente. Agora na ilha Oeste, a média é um tamanho 20% menor que o original, e então ocorrências de tamanhos ainda menores tem mais chances para acontecer. O oposto ocorre na ilha Leste.

Chegara um momento em que a Deriva Genética terá se acentuado tanto, em direções opostas, que essas populações passam a ter códigos genéticos excessivamente diferentes para serem capazes de cruzar entre si, ficando então reprodutivamente isoladas, e finalmente se tornando espécies diferentes.

A especiação está concluída.

Se posteriormente elas puderem se encontrar de novo, devido a junção das ilhas a uma ilha maior, ou algum fenômeno tectônico reverso, não mais poderão se misturar, mantendo então seu estado de espécies distintas. Teremos então Grifon Escuro da Floresta, menor e mais rápido, e de hábitos noturnos, e o Grifon Branco das Estepes, muito maior e mais forte.

Há inúmeras outras maneiras de haver isolamento geográfico, podem ocorrer surgimento de cordilheiras, abertura de fissuras, formação de desertos ou etc, que separem mais rapidamente as populações. Ou ela podem simplesmente se espalhar e perder o contato com seus ancestrais. Com o tempo cada população se adapta ao ambiente, sofrendo uma série de mudanças, a forma original tende a desaparecer.

Com esse exemplo, podemos entender porque os animais da América do Sul são diferentes dos da África, e ainda mais dos da Oceania, pois antes havia um único continente, e após muito milhões de anos existem vários, onde as espécies passaram a se especiar segundo suas condições específicas. Por isso embora haja felinos, caninos e roedores tanto nas Américas quanto na África, eles são diferentes entre si.

Como nunca existiu Dilúvio Universal, e a Terra possui 4,5 Bilhões de anos, esses animais tiveram tempo mais do que suficiente para a partir de ancestrais comuns, darem origem a novas espécies relativamente estáveis, e que não sofrem mudanças perceptíveis em período menores de tempo, como menos de 10 mil anos.

Isso explica a existência de Capivaras exclusivas no Brasil, Cangurus na Austrália, ao mesmo tempo que explica por que há Ursos tanto na Ásia quanto no Canadá, pois são continentes mais próximos. Quando maior a distância entre as terras, mais as espécies tendem a se diferenciar.

Creio que esse exemplo sirva para ilustrar e responder algumas das perguntas feitas por Frank de Souza Mangabeira. Como eu disse, não precisei apelar para nenhum conceito que fuja a compreensão da maioria das pessoas, Seleção Natural e Deriva Genética são simples. Não precisei de nenhum milagre ou evento altamente improvável como migração organizada de animais através de extensos caminhos. Diferente do que os Criacionistas pensam, também não é necessária a participação da Mutação, pois ela em geral, sendo uma mudança muito drástica, tende a deixar o indivíduo em desvantagem com relação ao ambiente onde sua espécie está adaptada.

Esse exemplo pode até não ser cientificamente comprovável, pois não temos como promover uma experiência deste tipo, mas ele se baseia em fenômenos que de fato existem, e é perfeitamente coerente. Qualidades que o Criacionismo não tem.


A segunda parte desta ilustração é separada por alguns meses, tendo sido desenvolvida já no início de 2003. quando finalmente a levei até níveis bem mais extremos, finalizando a "PRIMEIRA ILUSTRAÇÃO" à qual me refiro. A Segunda, que exemplificará o surgimento de novos órgãos aparentemente "do nada", ainda está em desenvolvimento.

Foi desenvolvida para meu Diálogo com a Dr. Márcia Oliveira de Paula, uma microbióloga Criacionista, com a qual desenvolvi um interessantíssimo debate.


Finalmente, é chegado momento de prosseguir com meu exemplo de ilustração de processo evolutivo. Devo agradecer mais uma vez à Dr. Márcia, pois sem a reclamação dela eu acho que tão cedo não me proporia a retomar esse importante assunto.

O que quero demonstrar aqui, é que basta hiperbolizar a situação anterior, no sentido de conceber várias situações semelhantes em sequência, para termos um resultado que os criacionistas considerariam como MACRO EVOLUÇÃO.

Usarei duas ilustrações. A primeira continuará a estória dos Grifons, desta vez num processo cumulativo que terminará em duas espécies distintas, uma primatóide, com mãos capazes de manipular objetos, e outra alada, para já demonstrar a falta de imaginação dos criacionistas em não conseguir entender como os animais alados podem ter surgido por meio da evolução.

Nesse primeiro exemplo, como partirei de um exemplo de animal fictício similar aos felinos que possuímos, o resultado final com certeza será algo um tanto exótico, no sentido de inexistente em nosso mundo atual.

Na segunda ilustração procurarei conciliar não só um exemplo de surgimento de novos órgãos como oferecer alternativas às ratoeiras de Behe, e propor que há sim modos de se conceber o surgimento de estruturas complexas e novas partindo de organismos mais simples.

Como disse Einstein certa vez, "A Imaginação é mais Importante que o Conhecimento". Afinal sem imaginação o conhecimento é inútil, ou inacessível. Por isso considero a falta de imaginação de certos teóricos bastante comprometedora.

Estarei entrando então na área da FICÇÃO CIENTÍFICA, por sinal minha especialidade, para os exemplos a seguir, e me deparo já de início com uma dificuldade análoga à do próprio processo evolutivo real.

Por incluir o acúmulo de diversas variações sucessivas ao longo de um extenso período de tempo, eu não poderia explicar uma transição extrema com o mesmo detalhismo do exemplo anterior, ou o texto ficaria no mínimo 10 vezes maior, por outro lado não posso também resumir demais os processos, sob risco dos exemplos parecem insuficientes ou mal elaborados.

Portanto espero ser capaz de atingir um bom meio termo, me conformando desde já, que boa parte da eficiência destas ilustrações dependerá da boa vontade e imaginação do leitor.

CONTINUAÇÃO DA ILUSTRAÇÃO DE PROCESSO EVOLUTIVO
- Com os Fictícios Grifons -

Em meu exemplo anterior, expliquei como um certo animal que denominei de Grifon, por possuir espesas jubas nas costas que lembrariam asas, se especiou, devido a uma divisão geográfica da população, em Grifon Branco das Estepes, cerca de 20% maior que o original, e no Grifon Escuro da Floresta, 20% menor que o original.

Numa processo que necessitou de dezenas de milhares de anos, esses animais embora aparentados, já não mais podem cruzar entre si. Agora vamos imaginar uma série de condições que obriguem ambas as espécies a seguirem caminhos cada vez mais divergentes até haver um resultado final onde as espécies não serão sequer fisicamente parecidas.

OS GRIFONS BRANCOS

Comecemos com o Grifon Branco, que caça manadas num terreno de estepes, ou se aventura num ambiente mais arenoso. Os indivíduos mais amarelados levam vantagem na estepe por se camuflarem melhor com a vegetação do ambiente, assim como precisam ser grandes e fortes para abater as manadas de herbívoros robustos que existem no local.

Os Grifons mais claros se saem melhor nos terrenos arenosos, pois a areia é clara. Além disso neste local a uma grande incidência de animais que se refugiam em buracos no solo, de modo que um tamanho menor favorece os indivíduos que tentam capturar esses animais em suas tocas.

Uma nova situação geográfica, talvez o desvio de um rio, ou uma praga que eliminou parte da vegetação em uma certa faixa termina por isolar as duas populações, e assim os Grifons mais brancos passam a viver num ambiente cada vez mais arenoso, em alguns locais até desérticos, e a pelugem branca os favorece cada vez mais, da mesma forma que os tamanhos menores vão sendo favorecidos.

A variabilidade genética também fornece a estes indivíduos patas dianteiras mais ou menos compridas e fortes, assim como unhas mais ou menos recurvadas e resistentes, porém, como a maior oferta de alimentos está em animais que se escondem em tocas, os Grifons de patas mais eficientes vão sendo beneficiados, e após uns séculos todos os indivíduos possuem patas mais fortes, mais compridas e com garras mais eficientes, ao passo que antes tais indivíduos eram minoritários.

Novas mudanças climáticas tornam o ambiente ainda mais seco, e a oferta de água começa a escassear, assim como a de alimentos, e dessa forma os animais menores, que demandam menor quantidade de alimentos, passam a ser os sobreviventes ideais, assim como um porte mais delgado e flexível se torna cada vez mais necessário para se introduzirem em tocas e capturarem animais escondidos.

Em alguns milhares de anos, a variabilidade genética e a seleção natural terão dado origem ao Grifon Branco do deserto. Cerca de 30% menor que o Grifon Branco das Estepes, de pelugem bem mais clara, e com patas dianteiras mais delgadas, compridas, ágeis e de garras mais recurvadas e fortes. Como os hábitos de caça destes animais não mais exigem grande velocidade, e sim paciência para vigiar as tocas, as velocidade de corrida do animal passa a não ser mais importante, e as pernas traseiras passam a ser menores e mais compactas, adaptadas a se agarrarem à entrada dos buracos e puxarem o animal de volta.

Por fim, o animal passa a ter metade do tamanho e peso do Grifon original já extinto, já estando também isolados dos demais Grifons Brancos que ainda vivem nas estepes.

OS GRIFONS ESCUROS

Agora vamos voltar à população de Grifons Escuros das Florestas, que se adaptaram a viver em intrincadas selvas e assumiram coloração ainda mais escura. O mesmo fenômeno que acentuou a desertificação da outra ilha, torna a vegetação da floresta desta ilha mais seletiva, com a diminuição das chuvas, as árvores maiores, e de raízes mais profundas, são selecionadas e com o tempo parte da vegetação mais baixa deixa de existir, resultando numa floresta onde as árvores são mais altas mas a vegetação de superfície se torna mais aberta.

Com a liberação de espaço na superfície, certas espécies de animais maiores começam a surgir na floresta, reduzindo a oferta de caça na superfície, e os Grifons então necessitam cada vez mais de procurar alimento em árvores mais altas, onde os outros animais não alcançam. A derivação genética já fornecia indivíduos cerca de 20% maiores ou menores, assim como indivíduos mais ou menos flexíveis e ágeis. Os menores e mais ágeis levam vantagem na disputa pela caça nas árvores.

Alguns milhares de anos depois, a Evolução terá resultado no Grifon Escuro Trepador, com notável habilidade de subir em árvores, e saltar de árvores para árvores, bem como se introduzir por entre os ramos mais fechados, resultando em indivíduos cada vez mais esquios e ágeis.

Por processos análogos, as árvores passam a se tornar mais afastadas, pois suas raízes profundas passam a competir no subterrâneo, assim como suas frondosas folhas passam a ocupar áreas maiores.

Havia então Grifons com maior ou menor capacidade de saltar entre uma árvore e outra, assim como, e finalmente aqui entra a função já prevista das jubas nas costas, jubas mais densas auxiliam a planagem. Como ao saltar os grifons instintivamente se esticam e abrem os membros dianteiros para alcançarem as árvores, a seleção natural favorece os que possuem maior envergadura, assim como os mais leves.

Ao longo da vida, o exercício do salto faz os animais desenvolverem cada vez mais as patas dianteiras, assim como estica e fortifica a pele que liga a carne dos membros ao corpo, e onde nascem pelos espessos. Aqui entra um caráter genético que poderia ser recessivo. Alguns Grifons possuiam genes que lhes permitia maior elasticidade na pele e nos músculos estriados, e que antes não era muito relevante, mas agora, os favorecidos desenvolvem membranas entre os membros e corpo maiores.

Desse modo um animal mais magro e leve, mais comprido e delgado, com um couro mais elástico e recoberto de pelos mais espessos vai se tornando o saltador ideal, e temos então o Grifon Saltador.

OS GRIFONS DO DESERTO

Muitos milênios mais tarde, os Grifons Brancos do Deserto são animais mais esguios, para se introduzirem nas tocas, de membros dianteiros ainda mais avantajados e versáteis, assim como de tato mais sensível e dedos mais dinâmicos, os que os permitem agarrar com maior eficência os animais, ou perceberem quando devem retirar as patas. Como algumas vítimas reagem, seus dedos, se tornam mais hábeis e sensíveis. Tudo isso graças a deriva genética que fornecia características diversas e antagônicas para as patas, e cuja natureza favoreceu as patas de dedos mais ágeis e sensíveis.

Ao introduzir as garras no chão, os Grifons do Deserto podem sentir pela unhas as vibrações mecânicas do ambiente, de modo que a Seleção Natural favorece aqueles de sentidos mais aguçados, capazes de, pela vibração, detectarem onde mais provavelmente se escondem animais. Da mesma forma agora os animais são cada vez mais voltados a prestar atenção em baixo, de modo que a Evolução os força a serem mais recurvados, mais parados, pois não há animais grandes para que possam perseguir, e mais pacientes e mais atentos ao ambiente. Também as jubas nas costas já quase desapareceram, pois elas atrapalham o desempenho nas tocas.

Uma nova vegetação rasteira, muito comum nas tocas, passa a ser muito consumida pelos roedores que servem de alimento aos Grifons, como estão acostumados a ingerí-la indiretamente, os Grifons passam então a consumi-las também diretamente, não como substituto alimentar mas como um modo de alimentação complementar.

Milhares de anos depois, alguma outra espécie macro ou microscópica passa a tornar os animais das tocas cada vez mais raros, de modo que os Grifons passam a depender cada vez mais dos vegetais que aprenderam a comer.

A Seleção Natural passa então a favorecer aqueles indivíduos que mais apreciavam ou cujo organismo melhor aproveitava os vegetais, e alguns milhares de anos mais tarde, alguns passam a viver exclusivamente destes vegetais subterrâneos, muitos na forma de raízes, e suas patas passam então a ser ainda mais delicadas e sensíveis para poderem detectar com o tato esses vegetais, assim como para conseguir extraí-los com mais eficiência.

Uma característica em especial começa a ser selecionada. Como os Grifons permanecem a maior parte do tempo parados, de tocaia, ou se movendo devagar, a Seleção Natural favorece os menos agitados e mais tranquilos, assim como os mais atentos ao ambiente, e da mesma forma, favorece a coleta em grupo, pois vários Grifons em grupo tem mais chance de localizar algum alimento, e o que o fizer, chama a atenção dos outros.

Se tornam então animais cada vez mais sociais, e os indivíduos de melhor comportamento de grupo vão sendo favorecidos, de modo que mais uns vários séculos, os Grifons Brancos Cavadores se tornam animais cada vez mais grupais e menos nômades, de modo que muito da alimentação que conseguem costuma se concentrar em certos pontos.

DE VOLTA À FLORESTA

Os Grifons Saltadores são agora animais bem mais magros, esquios, de braços dianteiros longos, com uma ampla membrana elástica dos membros frontais ao abdômen, sendo estes, assim como costas e braços, recobertos com amplos e espessos pelos que lhes dão a aparência de usarem capas.

Novos fatores climáticos produzem agora ventos mais fortes que se infiltram na floresta, por algumas áreas abertas. Como os Grifons já aprenderam a planar, passam a se beneficiar também de certas correntes de ar, e aqueles indíviduos que possuem melhor perceção ambiental passam a ter sua habilidade de planagem melhorada por conseguirem aproveitar as correntes de ar.

Como a espécie tem sido muito bem sucedida, se expande, e atinge os limites da ilha em que vivem entrando em contato com a orla marítima. Com o aumento da população o alimento começa a escassear de modo que muitos indivíduos desenvolvem modos de caçar outros animais, alguns não estão nas árvores mas sim em campo aberto.

Agora temos os Grifons Planadores, capazes de subir em árvores altas e se lançar silenciosamente, inclusive rumo a campos abertos onde certos animais são mais vulneráveis, o que os obriga a saltos cada vez maiores e planagens ainda mais duradouras. Alguns indivíduos, ao perceberam que estão caindo mais rápido do que pretendiam, apresentam o hábito de abrirem e fecharem os braços, como se tentassem se agarrar no ar. Como essa atitude acaba por gerar deslocamentos de ar capazes de prolongar o vôo, os que apresentam esse comportamento passam a prolongar seu vôo com muito maior amplitute.

Digamos que mais algumas eras se passem e os Grifons das Florestas abrangem os Trepadores, que se mantém ainda nas florestas mais fechadas, os Saltadores, que habitam as florestas mais abertas, e os Planadores, que habitam florestas próximas a campos abertos.

Porém um novo período geológico traz uma seca que passa a diminuir as florestas e escassear sua diversidade, e os Trepadores e Saltadores ficam compromentidos, porém os Planadores que viviam próximos a locais com rochas elevadas, ou montanhas ao lado de florestas, conseguem sobreviver graças a aprenderem a se lançar do alto de pedras em campos abertos.

Mais umas eras e o planeta começa a esquentar, e o nível dos mares sobe, de modo que habitações da orla marítima são agora inundadas. Muitas espécies morrem nesse processo, mas os Grifons Planadores tem a habilidade de planar de uma rocha para a outra, sobrevoando a superfície coberta pela água do mar. Com o auxílio dos ventos marítimos, os Grifons que já possuíam boas habilidades de interação com o vento, passam a ser capazes de planar com ainda maior eficiência, assim como o hábito de agitar os braços para prolongar o vôo é agora muito mais reforçado e onipresente.

Finalmente, temos então, após talvez um milhão de anos, os Grifons Voadores das Praias.

Novos movimentos tectônicos e o subir e descer dos mares acabam por revelar novas ilhas, que vão sendo pouco a pouco habitadas pelos Grifons que também aprenderam a capturar pequenos animais voadores, e com isso vão se aproximando de uma outra massa de terras, bem maior, para onde alguns grupos migram e entram em contato com animais muito estranhos.

O REENCONTRO

Vejamos agora os Grifons Brancos, que outrora vivam no deserto arenoso, mas agora também aprenderam a viver próximos a rios, florestas e praias, vivendo então da coleta de raízes e frutas.

Eles não tem mais jubas nas costas, andam devagar e sempre em grupo, desenvolvendo uma forte união social. Suas patas dianteiras são agora sofisticadas, com garras flexíveis e hábeis em cavar, esgravatar e cortar alimentos, bem como segurá-los e trazê-los à boca para utilizarem os dentes.

Por estarem sempre juntos, a capacidade de comunicação entre eles se aperfeiçoou, a seleção sexual favoreceu aqueles mais empáticos com seus companheiros, de modo que a complexidade dos comportamentos desta espécie elevou-se grandemente.

Nos locais onde habitam, não há muitos grandes predadores, e os poucos que existem não representam uma ameaça sigficativa para a espécie, pois embora a evolução tenha deixado de favorecer a agressividade ou garras e dentes mais perigosos, esses Grifons Sociais ainda trazem em sua bagagem genética a ferocidade necessária para enfrentarem situações de perigo.

Com o aumento da vegetação, a alimentação é farta e fácil de se obter, e sobra muito tempo para que os Grifons Sociais brinquem uns com os outros, se acasalem e desenvolvam cada vez mais comportamentos de grupo sofisticados.

Um dia porém, os Grifons Sociais, que estão acostumados a manter sua atenção da linha do horizonte para o chão, são surpreendidos por estranhos animais que passam a atacá-los do alto. Esses predadores são diferentes de tudo o que eles já viram e poem em sério risco principalmente os filhotes dos grupos.

São os Grifons Voadores, predadores vorazes aperfeiçoados por eras de evolução e capazes de se alimentar de toda uma variedade de animais, e que devido a escassez de animais menores nesta região passam a atacar os Grifons Sociais.

Uma luta feroz pela sobrevivência se iniciará, e é difícil prever o resultado. Essas espécies um dia já foram uma só, mas hoje são tão diferentes que parecem nada mais ter em comum.

Imaginemos o velho Grifon original. Um animal de cerca de 3m de comprimento, como um leão, com uma espessa juba nas costas, amarelado, robusto, com pernas dianteiras e traseiras bem distribuídas, garras curtas e largas e membros grossos.

Imaginemos agora os delgados Grifons Sociais, que não medem mais que 1,5 metro de comprimento, membros dianteiros bem finos compridos e delgados com garras longas e finas. Brancos, sem jubas nas costas e pernas traseiras curtas, já insinuando um desequilíbrio entre membros anteriores e posteriores que poderiam vir a resultar nos princípios do bipedismo.

E o Grifons voadores, de cor escura, longas asas dianteiras e espessas capas de pelos, 1m de comprimento e muito leves.

A Evolução também se encarregou de distanciar as funções cerebrais destes animais, assim como seus sentidos e consequentemente todos os seus hábitos. Considerando que eu não idealizei nenhuma grande catástrofe durante esses período, é possível que jamais se encontrem fósseis das fases intermediárias entre essas espécies, e se um dia pesquisadores humanos achassem um fóssil do velho Grifon das Estepes, talvez estivessem se perguntando onde estão as espécies transicionais entre estes ancestrais e os atuais Grifons Voadores e os Sociais.

Ou talvez uma catástrofe venha a ocorrer agora, aumentando enormemente as chances de fossilização dos atuais Grifons e num futuro muito distante pesquisadores os localizassem e também se perguntassem onde estão os fósseis transicionais entre o Grifon das Estepes e o Grifon Voador.

Quem sabe depois alguém encontrasse um fóssil de um Grifon Saltador e o apresentasse como uma evidência do processo evolutivo, mas outro poderia contestar: É apenas uma outra espécie! Onde estão os transicionais? E se achassem o fóssil do Planador, ainda se poderia perguntar: Sim! Mas é o intermediário entre o Planador e o Voador?

Ou talvez os Grifons Sociais sobrevivam, desenvolvam meios de combater os Grifons Voadores. Essa nova situação irá selecionar uma variedade diferente, exigindo muitas habilidades novas. Isso poderá acelerar o processo evolutivo, e quem sabe centenas de milhares de anos depois os cérebros e os membros dianteiros destes animais tenham se desenvolvido o suficiente para usar ferramentas e desenvolver cultura.

Com a simplicidade de uma inteligência rudimentar mas a genialidade do potencial, muito provavelmente eles inventem uma série de visões de mundo, inclusive o mito do Grande Grifon Divino. E talvez, muito milhares de anos depois, tenham desenvolvido tecnologia suficiente para se telecomunicarem pelo planeta, e quem sabe dois deles estarão debatendo através de sistemas remotos de comunicação sobre suas origens.

Um dizendo sobre como poderia ter ocorrido o processo evolutivo que os fez ser quem são, e o outro preferindo acreditar na criação do mundo em 6 dias e na sua própria criação vindo do barro, obras do Grande Grifon Divino.


Com isso, espero ter contribuído para um exercício de imaginação capaz de derrubar algumas das maiores barreiras para a aceitação de certos conceitos científicos. Barreiras estas simples de serem entendidas.

Como seres de vida limitada a um máximo estimado em 125 anos, fomos moldados pela evolução para compreendermos com mais facilidade conceitos temporais dentro desta faixa de tempo. Imaginar eventos que envolvem miléssimos de segundos ou milhões de anos sempre é mais complicado. Temos uma tendência natural a resistir a tais períodos.

Da mesma forma, temos dificuldade até mesmo em imaginar medidas de pouco nanômetros, ou dezenas de Anos-Luz.

A Imaginação e a Criatividade são nossos melhores instrumentos para contornar tais dificuldades. Imaginação livre, capaz de transpor as invioláveis barreiras do Tempo, do Espaço e do Infinito. Criatividade capaz de nos levar à outros mundos, outras estrelas e mesmo galáxias. Ousadia intelectual para imaginar passados e futuros muito distantes, e conceber ecossistemas e civilizações alternativas.

Digo isso, porque é exatamente para proteger tal direito que me oponho ao fundamentalismo religioso, que no caso em questão, insiste em limitar a história da Terra a poucos milhares de anos, em colocar um tempo limite para a história, a ser finalizada por intervenção divina, e em restringir o Ser Humano a uma triste versão melhorada de uma Ovelha de Rebanho, submetida a um Ser Divino, Todo Poderoso e Incompreensível, a qual todos devem adorar cegamente.

Sair dessa limitação, romper a casca desse Ovo de visão de mundo restrita à mentalidade de pessoas que viveram há milhares de anos, ainda que geniais para sua época, é um requisito indispensável para quem pretenda ver um mundo maior, uma Universo Infinito.

Para quem queira, num sentido um tanto mais amplo, Evoluir.

Marcus Valerio XR
02 de Novembro de 2004
A Idade da Terra
O Ovo ou a Galinha?

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