TÁBULA RASA ?19.350 CaracteresPara melhor compreender o porquê da imensa resistência à abordagens baseadas em Psicologia Evolutiva, é preciso entender o quê exatamente a tradição dominante nas "Ciências" Humanas tem a dizer sobre o objeto de disputa, o Comportamento Humano. Penso que, infelizmente, grande parte da produção dos próprios evolucionistas não tem ajudado a esclarecer o problema. A obra mais famosa sobre o tema, do psicologista Steven Pinker, por exemplo, utiliza 3 conceitos primordiais para definir a oposição à existência de uma Natureza Humana intrínseca, e por tabela, à Psicologia Evolutiva: Fantasma da Máquina, Bom Selvagem e Tábula Rasa. Este último conceito dá nome ao famoso, e ótimo, Livro do Autor, e acabou se tornando uma acusação comum feita pelos defensores da PE contra o dito Modelo Padrão das Ciências Sociais, que descreveria a mente humana como uma Tábula Rasa. Pinker não foi o primeiro, visto que os próprios John Tooby e Leda Gosmides, considerados fundadores da PE, levantam essa acusação. Não digo que esse modelo esteja errado, até captura bem uma série de questões e consegue elucidá-las. Mas penso que em parte também confunde, gera outras dificuldades, e sobretudo me parece desnecessariamente prolixo. Penso que os 3 podem ser substituídos, com ganho, pelo simples conceito de Determinismo Cultural O EQUÍVOCO DO EQUÍVOCOA abordagem é problemática porque as Ciências Sociais, ou o que quer que seja, não acreditam em Tábula Rasa, isto é, a noção de que a mente humana é originalmente pura como um papel branco, sem conteúdo prévios, que será apenas passiva ao longo de sua existência, absorvendo estímulos do ambiente, incluindo a cultura. A própria ideia de Tabula Rasa costuma ser mal descrita nesse contexto, e só é melhor entendida (aliás só faz sentido), dentro de seu contexto original, o Empirismo inglês do Século XVIII. Embora envolva um debate que pode ser facilmente rastreado até a Grécia Antiga, com posições representadas por Platão, Idealismo, e Aristóteles, Empirismo. O primeiro afirmava que a mente nascia com conteúdos prévios que só precisavam ser relembrados, o segundo, que a mente abstraia tais conteúdos por meio da experiência. Essa dialética se arrasta até hoje, mas com notáveis variações ao longo da história, e o Empirismo de John Locke e David Hume estava mais preocupado em combater o idealismo, negando que trouxéssemos prontas noções que iam desde conceitos matemáticos até linguísticos avançados. Porém, nem naquela época, muitíssimo menos hoje, alguém acreditou que a mente humana fosse completamente desprovida de qualquer conteúdo. Ela trás, no mínimo, operadores cognitivos básicos, como a capacidade de adquirir linguagem ou os princípios lógicos sem os quais o raciocínio é simplesmente impossível. O que realmente muda é qual a amplitude e capacidade desses operadores fundamentais. Todos sabem claramente que sozinho um ser humano não aprende um idioma, mas todos também sabem que este tem a capacidade inata, e exclusiva, de aprendê-lo. Não adianta criar um chimpanzé como se fosse um humano desde nascença, submetendo-os a todos os estímulos típicos a quais os humanos são submetidos. (Sim, isso já foi tentado!) Isso não o fará aprender uma linguagem humana. Se a capacidade de aprender é inata, então a mente não pode de forma alguma ser um papel em branco, ela tem que ser, no mínimo, pautada, com guias específicas, linhas que obrigam os dados a se conformarem a um molde prévio. Mas para utilizarmos nossa vantagem histórica, deixemos de lado analogias papelescas e passemos a fértil analogia computacional. A mente humana é como um computador, dotada não apenas da capacidade de processamento, da memória e das unidades de entrada e saída, mas também de uma BIOS – Basic Input Ouput Sistem, previamente configurada, com drivers bem específicos em plena operação, ou que entrarão em operação no momento apropriado, e uma série de instruções primordiais sem as quais o sistema simplesmente não pode iniciar. Há toda uma estrutura subjacente que nasce pronta, com um Sistema Operacional e alguns programas básicos inatos, apenas esperando a lenta e progressiva instalação de um Sistema Operacional mais avançado, a Linguagem, e diversos programas mais específicos, que são as diversas competências que adquirimos ao longo da vida. Até aqui, não me parece sequer possível que alguém discorde além dos meros detalhes da analogia. A verdadeira discordância entre a tradição Culturalista e a PE não se dá nos puros elementos cognitivos e o modo como lidam com dados objetivos, mas sobretudo nos comportamentos de motivação subjetiva, em especial os de ordem emocional, estética, ética, simbólica etc. É aqui que reside o cerne do Determinismo Cultural, na concepção de que reações e impressões de ordem fundamentalmente passional sejam construções sociais invés de atitudes instintivas que no máximo podem ser maximizadas ou minimizadas pela influência do meio. Ao menos, não tenho conhecimento de algum sociólogo, psicológico ou ideólogo que tenha dito que a capacidade de somar 2 + 2 é socialmente construída. Os signos utilizados sim, mas não os operadores primordiais em si. O que pode-se achar claramente são afirmações de que reações de aversão, medo, atração, aborrecimento, fascínio, etc, sejam socialmente implementadas. E o mais comum. Que gostos, preferências, papéis sociais, dinâmicas relacionais etc, não tem qualquer base instintiva inata. FALAR E ESCREVERA diferença pode não parecer grande a princípio, mas fica mais clara quando enfocamos a divergência no contexto mais específico da capacidade cognitiva, isto é, de adquirir conhecimento. O DC pensa que possuímos uma espécie de capacidade geral de aprendizagem que pode ser facilmente adaptada para apreender qualquer conteúdo, ao passo que a PE propõe diversas capacidades setorizadas, com diferentes graus de potência e bem menos flexíveis, mas que podem cooperar entre si. Tomemos por exemplo linguagem falada e escrita. Se houvesse uma capacidade de aprendizagem genérica que funcionasse de modo mais ou menos similar para as mais diversas situações, seria de se esperar que no devido contexto cultural, ela aprendesse com a mesma facilidade e de modo similar capacidades relacionadas. Assim, como vivemos num mundo repleto de letras, com inscrições em toda parte, frequentemente associadas a sons e imagens evidentes, a exemplo dos canais de TV infantis, e por vezes até mesmo com atitudes deliberadas de pedagogos e responsáveis para estimular a inteligência de seus rebentos... Bem, então seria de se esperar que as crianças nesse contexto aprendessem a ler e escrever com facilidade comparável a com que aprendem a falar e entender a fala. Mas é evidente que isso não acontece. As crianças dominam a fala espontaneamente, por tentativa e erro, de forma um tanto caótica mas progressiva e eficiente, e frequentemente fazendo-o com pouco estímulo. Por outro lado, a leitura e escrita exige estudo sistemático, esforço, e comumente causa cansaço. Ou seja, as crianças aprendem a falar em qualquer lugar e com qualquer um, mas tem que ir à escola ou ter um professor particular para aprender a ler e escrever. Se o DC não tem uma explicação clara para isso, do ponto de vista da PE isso é de uma simplicidade cândida. Aprendemos a falar com facilidade porque a espécie humana fala há no mínimo centenas de milhares de anos, tendo tido tempo de sobra para que a evolução configurasse nossos cérebros de modo extremamente eficiente. A escrita, por outro lado, tem apenas 6 milênios, e na verdade, essa inédita situação atual onde a maior parte da humanidade sabe ler e escrever não tem sequer um século! Isso significa que está além da natureza humana ter um potencial inato para aprender a escrever tão bom quanto a aprender a falar? Claro que não! Significa apenas que tal potencial não foi devidamente instalado e configurado em nossa herança genética quanto o foi o potencial de falar. Isso ocorreu porque sendo a fala um dom vital para a existência humana, aqueles que a dominam com mais facilidade de certo tem vantagens. Assumem lideranças, são respeitados, e sabemos muito bem que a habilidade masculina de conversar eficientemente com mulheres traz enorme vantagem reprodutiva. Dito de forma simplória, os sedutores são "bons de papo". Ao mesmo tempo, pessoas que não aprendam a falar, ou aprendam muito mal, são facilmente excluídas do convívio social e suas chances reprodutivas, especialmente as masculinas, são seriamente afetadas. Se isolássemos por milhares de anos uma sociedade onde somente as pessoas com maior facilidade para ler e escrever tivessem direito a se reproduzir, com o tempo a facilidade do aprendizado aumentaria, fazendo com que as crianças, trazendo na bagagem centenas de gerações onde tal potencial foi acumulado e fortalecido, fossem capazes de aprender a escrita com muito maior facilidade. INFLUÊNCIA DO AMBIENTEDisto, podemos inferir uma outra incrível coincidência entre o DC e o Criacionismo. Ora os Deterministas Culturais insistem que tais elementos da natureza humana são determinados pelo ambiente sócio-cultural. Os evolucionistas, nesse caso, concordam completamente. No exemplo da linguagem isso fica claro. Se o domínio da fala não fosse culturalmente valorizado, a mesma não teria evoluído para nos tornar aprendizes tão eficientes da mesma. Ocorre que a Psicologia Evolutiva deixa claro que são necessários períodos de dezenas ou centenas de milhares de anos de ambiente constante para que tais características sejam incorporadas à uma população. Tal ambiente estável ocorreu, visto que nossos ancestrais habitam este mundo há mais de um milhão de anos e que a capacidade da fala é de primordial importância no mínimo há uns 200 mil. Mas os Deterministas Culturais pensam que uns poucos séculos, mesmo décadas, são suficientes para moldar tais características! Da mesmíssima forma, enquanto os evolucionistas dizem que são necessários milhões de anos para surgirem certas variedades de espécies, os criacionistas dizem que as mesmas podem surgir em poucos milhares. Ou seja, separam a micro da macroevolução, dizendo, AO MESMO TEMPO, que a última é impossível mas a primeira é muitíssimo mais rápida do que os evolucionistas admitem. Como segue o gráfico. Este gráfico ilustra a mentalidade do Cracionismo de Terra Jovem e Dilúvio Global, que precisa explicar como é possível que exista tamanha variedade atual de espécies se elas não caberiam na Arca de Noé (Hoje em dia me sinto até ridículo por ter me rebaixado a discutir isso.) Assim, supõe-se que havia na arca espécies originais, como por exemplo um casal de felinos, outro de ursídeos, etc, que em menos de 2 mil anos deram origem aos inúmeros sub tipos que se espalhariam pelo mundo. Ou seja, apesar de negarem que Evolução possa, em milhões ou bilhões de anos, dar origem às espécies existentes, propõem que ela seja capaz, num tempo muitissimamente menor, gerar espécies como tigres ou leões a partir de um único casal ancestral comum. Pode parecer completamente ridículo invocar tal imagem numa discussão que envolve temas da Sociologia e Antropologia, mas vejamos se não é possível construir um gráfico incrivelmente similar. A PE reconhece que as espécies são determinadas ambientalmente, mas esse processo é lento e se dá em grandes escalas de tempo. No caso da cultura humana, também não faz uma distinção rígida entre a influência Social e a Natural, pois de certa forma, tudo é ambiente. Já o DC separa a dimensão Social da Natural, leia-se Biológica, de modo a negar que nossas tendências comportamentais estão impressas em nossa genética, rejeitando a simples idéia de que haja algo Natural na espécie humana, e por outro lado crê que o ambiente social determina toda essa nossa dimensão, e que tal se deu numa escala de tempo pequena. Se os homens são mais propensos a assumir riscos do que as mulheres, a PE explica isso pelos fatores de sobrevivência e reprodução que imperaram sobre nós e nossos ancestrais há milhões de anos, enquanto o DC cultural propõe que isso seja uma imposição recente do "Patriarcado"! No máximo há uns 8 mil anos atrás. E que como tal, poderia ser desmantelado em poucas gerações por uma Revolução Cultural. O fato de que as radicais alterações sociais, políticas, econômicas, estéticas e simbólicas ocorridas nos últimos séculos terem tido um efeito pífio nessas diferenças, efeito este explicável facilmente pela PE, que admite claramente nossa flexibilidade, não faz com que os Deterministas Culturais repensem seus conceitos, mas sim, que tentem intensificar ainda mais suas experiências sociais na tentativa de eliminar culturalmente nossa herança genética. FLEXIBILIDADE DA NATUREZAÉ, de fato, nos comportamentos de gênero que o DC se faz mais presente, embora o mesmo também tenha deixado marca indelével nas questões familiares e éticas, como por exemplo apostar que o apego humano pelos familiares poderia ser facilmente dissolvido, ou que as necessidades humanas poderiam ser remodeladas por engenharia social. As questões de gênero, no entanto, não apenas são mais atuais como mais fáceis de entender, o que gera resultados um tanto constrangedores. Por exemplo, movimentos feministas ao afirmar que os comportamentos masculinos e femininos, bem como seus gostos, sensibilidade e mais profundas características, sejam construções sociais, costumam apontar como evidência o fato de que as mudanças dos últimos séculos de fato causaram algumas mudanças de papéis, com mulheres adentrando profissões a funções antes tipicamente masculinas. Mas qualquer estudo científico do comportamento humano sabe que apesar de haver características evolutivamente moldadas, elas possuem ampla flexibilidade, embora não infinita. Em centenas de milhares de anos em todo o globo, os caçadores foram em sua quase totalidade homens, mas isso jamais significou que todos os homens sejam bons caçadores e que mulheres não possam sê-lo. O que a PE irá dizer é que a maioria dos homens possui características inatas que, no devido contexto, os tornam melhores caçadores, mas tal maioria é variável e difícil de delimitar. Poderíamos dizer, por exemplo, que cerca de 2/3 dos homens possuam natureza favorável ao desenvolvimento de habilidades tipicamente masculinas, enquanto somente 1/3 das mulheres a tenha. Mas a influência cultural pode forçar esse limiar para mais ou menos, e historicamente reduziu drasticamente a manifestação de tais habilidades nas mulheres e reforçou nos homens. De certa forma, homens e mulheres têm um certo grau de androginia, mas esse limiar é claramente inclinado para cada caso. Isso ocorre porque ao longo da construção genética de cada indivíduo, logo após a fecundação, um processo chamado Transcriptase é realizado captando meio a meio e de forma predominantemente aleatória características contidas no Espermatozóide e no Óvulo, mas esse processo é incapaz de saber qual é o sexo do indivíduo gerado, que é definido por outro processo. Por isso, tanto um homem quanto uma mulher trazem em sua genética características aplicáveis a ambos os sexos, mas tais características, por outro lado, serão ativadas, desativadas, reforçadas e enfraquecidas posteriormente ao longo do desenvolvimento. Um homem pode herdar da mãe predisposição a desenvolver seios grandes, que obviamente não irá se manifestar nele, mas que pode ser transmitida à sua filha. Da mesma forma, um sexo pode trazer em sua bagagem potenciais comportamentais do sexo oposto, que serão enfraquecidos nele mas transmitidos adiante. Bem como nada impede que o indivíduo de um sexo tenha características mais comuns no oposto, embora no geral o mais comum seja tê-las relacionados ao seu próprio sexo. Portanto, não é uma questão de que homens são de tal forma e mulheres de outra, mas que tendem a tais comportamentos com grau significativo de probabilidade. Em suma a maioria dos indivíduos terá comportamentos tipicamente de seu gênero que podem ser reforçados ou enfraquecidos pelo ambiente, mas não eliminados ou invertidos. Uma minoria poderá ser mais ambígua, e uma menor ainda os inverterá radicalmente. Portanto, são os limiares que estão em disputa. Uma mudança cultural, como as dos últimos séculos, pode facilmente alterar esses limiares, reduzindo sua manifestação nos homens e aumentando nas mulheres. Mas isso apenas demostra a flexibilidade de tal herança genética. Para que tal mudança chegue a ponto de inverter tais tendências, seriam necessários milênios de rígido ambiente constante, o que na verdade seria simplesmente impossível. Num ambiente mais primitivo, as forças ambientais jogariam as tendências de volta, visto que colocar mulheres em atividades de risco reduziria drasticamente sua eficiência reprodutiva. A sociedade que assumisse papéis mais tradicionais facilmente superaria a sociedade que invertesse tais papéis, uma vez que reengenharia alguma mudaria o fato de serem as mulheres a encarregadas de mais 99% do encargo reprodutivo. Num ambiente mais sofisticado, seria por outro lado impossível controlar as condições culturais a ponto de gerar uma mudança realmente estável. O choque de opiniões, questões éticas, a própria liberdade individual e todo um embate político impediria que o ambiente exercesse uma pressão estável. Nem mesmo alterações diretas na espécie humana, por meio de engenharia transgênica poderiam ser feitas sem severa retaliação social. E por isso é praticamente impossível que as simples mudanças recentes de ordem sócio cultural alterem significativamente os comportamentos predominantes previamente instalados na espécie humana, que foram moldados por centenas de gerações em ambientes que se mantiveram estáveis por milhões de anos. DETERMINISMO CULTURAL E FALÁCIA NATURALISTAVoltando à famosa obra de Steven Pinker, ela propõe os conceitos de: TÁBULA RASA, embora o próprio autor admita que não se trata da versão mais radical da idéia, e sim de que não exista uma natureza humana prévia e ou que o ser humano seja indefinidamente flexível, podendo ser facilmente remodelado pela sociedade a níveis extremos. BOM SELVAGEM, a idéia rousseauniana de que o indivíduo é naturalmente bom e a cultura e a sociedade que o corrompem. O que se observarmos bem, entra em contradição com a primeira. Algo não pode ser naturalmente bom se não possuir algo de natural! FANTASMA DA MÁQUINA, a noção de que, uma vez não tendo nada que lhe seja intrínseco, "algo" externo controle o cérebro impondo características e comportamentos que não são realmente inatos. Voltando à analogia computacional, um software externo que assume o comando do hardware como se esse não possuísse parâmetros operacionais pré-definidos. Eu acho essas colocações muito confusas, e embora Pinker trabalhe bem com o tema, esse modelo, a meu ver, mais atrapalha do que ajuda. Por sorte não é difícil abstrair o que está sendo de fato analisado, dispensando essa terminologia. Penso que o termo DETERMINISMO CULTURAL substitua as 3 com vantagem. Primeiro, por implicar que o ser humano é determinado pela cultura de uma forma direta e imediata, ignorando sua bagagem genética implementada evolutivamente por uma história natural incomensuravelmente maior. O ser humano é, de fato, AMBIENTALMENTE DETERMINADO, mas tal ambiente é constituído pela dimensão natural, extra humana, e a cultural. O que o Determinismo Cultural faz é negar toda a extra humana e super acelerar a cultural. Segundo, o Bom Selvagem só faz sentido pela FALÁCIA NATURALISTA. O selvagem seria bom exatamente por estar mais próximo da natureza, e não por ser intrinsecamente bom. Ocorre que o DC é indissociável da Falácia Naturalista, porque ele surgiu exatamente como uma requisição pela transformação cultural, visto que é a cultura vigente que seria a responsável pela corrupção humana. Em síntese, a FN ao pregar que o natural é Bom, coloca todo o mal no Cultural, portanto é a cultura que tem que ser mudada para recriar um ser humano melhor. Mas o terceiro é o mais interessante, pois nos leva diretamente à semelhança do Criacionismo. Se os humanos não possuem uma natureza intrínseca, mas sim Determinada Culturalmente, então de onde veio a cultura? Ora, a não ser que se considere que os animais também seriam culturalmente determinados (e de fato a solução de alguns antropólogos é mesmo estender o conceito de cultura a tal ponto) então teríamos que admitir que humanidade é algo em separado dos animais. E o pior, que a cultura veio de fora! Do contrário teríamos que admitir que a cultura foi determinada naturalmente, ou seja, surgiu sobre as bases biológicas. Mas se isso for feito, então o própria noção de que nada haveria de intrínseco aos humanos não faria o menor sentido. Se bem que, de fato, não o faz. Assim, é como se a Cultura, subitamente, baixasse numa espécie pré-humana como se fosse o Espírito Santo, transformando-a quase imediatamente numa espécie cultural. CRIACIONISMO X DETERMINISMO CULTURALNesse ponto, um evolucionista ingênuo bem poderia temer que estou dando motivos para uma estratégica aliança entre o DC e o Criacionismo, afinal, ambos tem muito em comum e há um apelo especial na idéia da cultura surgir repentinamente na humanidade, como se de fato um Deus empurrasse almas cabeça a dentro dos primeiros hominídeos. Mas posso garantir que tal aliança não irá acontecer ao menos em qualquer escala significativa. Principalmente, porque o DC é fiel a um alinhamento ideológico fortemente anti conservador, e frequentemente anti cristão, tornando-o inimigo de qualquer forma de criacionismo. Mas também porque o conservadorismo, e as religiões em geral, todas defendem fortemente uma "natureza" humana, com a diferença de que esta não é construída evolutivamente, mas sim por uma instância sobrenatural. Aliás, nisto reside a imensa diferença entre a abordagem Naturalista Científica, da PE, e o Sobrenaturalismo das religiões. Ao dizer que algo é Natural, os primeiros apenas frisam o papel biológico, modelado por milhões de anos de evolução natural, que deixou as espécies modeladas não apenas fisicamente, mas em eu sua psicologia mais fundamental. Enquanto os segundos falam na ação intencional de entidades que, assim sendo, não são realmente, naturais, mas sim artifícios de seres divinos. Portanto, apesar das semelhanças e divergências entre estes segmentos do conhecimento humano, temos um choque em 3 frentes. A PE, sendo Evolucionismo, em conflito com o Criacionismo e seus descendentes como Design Inteligente e "Teorias da Informação", e ao mesmo tempo com o DC, que ao mesmo tempo também está em conflito com o conservadorismo religioso que move o Criacionismo. Essa situação singular é só mais um efeito colateral do mau hábito de se aferrar a idéias supostamente benevolentes e progressistas, mas fadadas ao fracasso devido à sua alienação da realidade. Coisa que o Criacionismo tem em comum com o DC. Mas se os primeiros ao menos tem a crença em Deus para se agarrar, qual a desculpa dos segundos? Marcus Valerio XRAbril - Maio de 2013
|
||||