Para aqueles que queiram examinar um exemplo de argumentação criacionista
escolhi uma pequena estória em quadrinhos que apesar de um pouco mais
caricata que a média, sintetiza com perfeição alguns dos mais famosos argumentos dos
"Cientistas" da Criação.
Essa "pérola" foi obtida no site WWW.CHICK.COM de
Jack T. Chick, especializado em produzir fundamentalismo cristão em quadrinhos para vários idiomas.
Este em especial está contido neste
Link Direto com o nome de
PAPAI?, mas podem ser encontrados muitos outros sobre temas diferentes.
Vale a pena dar uma conferida.
Recomendo que se leia primeiro apenas os quadrinhos, e só depois se examine meus comentários
passo a passo, e posteriormente, se consulte os links. E divirta-se.
Marcus Valerio XR
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A estória já inicia com uma situação imprópria. Essa pergunta não deveria ser feita por
um professor, não porque o assunto seja delicado, mas porque a princípio pouco importa se os
alunos acreditem ou não na Evolução. O que deve ser examinado em âmbito escolar é se eles a
entendem. Sem comentários para o quadro na parede.
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Também não consigo imaginar uma turma responder a essa pergunta com qualquer empolgação.
O cartunista claramente quer colocar o aluno criacionista como um heróico e corajoso
contestador que se levante ante uma multidão adversária.
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Aqui vemos a insinuação de que o cientistas e professores de biologia (Evolucionistas)
são autoritários e intransigentes, não admitindo contestação. É uma situação que duvido muito
ocorra. Na verdade tenho certeza que a experiência de qualquer um mostrará que essa reação
é muito mais comum por parte de religiosos.
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Mas a estória tem que seguir, o professor reconsidera e sua reação anterior
fica contraditória, o autor tinha que insinuá-la e a encaixou sem cuidado.
Depois num raro momento honesto, o autor admite através de seu herói
criacionista ser antes de tudo um crente, ou seja, sua base é a Bíblia e irá
defendê-la a todo custo não importando as consequências para a Razão e a Ciência.
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Agora o professor se mostra além de agressivo, estúpido. A própria nota de rodapé assume
que ninguém poderia ser preso por uma afirmação destas. É a Liberdade de Religião e Pensamento, que
não havia na época em que o Paradigma dominante era o Criacionista.
A estória quer flagrantemente denegrir a imagem dos Cientistas e por tabela do Humanismo Secular.
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Aqui parece haver uma insinuação de Conspiração para manter o Evolucionismo, como se ele só se
sustentasse, como afimam alguns criacionistas, graças a disseminação de uma Filosofia atéia com
o objetivo de banir a "palavra de Deus". Uma obra de Satan por sinal.
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MENTIRA! Não existem tais conceitos básicos para Evolução! Os 3 primeiros
nada tem haver com evolução biológica, o 4 está totalmente errado e os
dois últimos são invenções criacionistas para aceitar a parte da Evolução
que é impossível negar. Desse jeito fica fácil a "Tacada" do rapaz, e o professor
se mostra incomodado com seu alegado "preparo".
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ERRADO! O Neanderthal não é ancestral do Homo Sapiens! É uma espécie
paralela! Isso equivale ao gracejo do título da estória, insinuando que "O Homem veio do Macaco",
o que nunca foi dito pelos evolucionistas. Os humanos e os primatas superiores descendem de
hominídeos primitivos.
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Tripla mentira do aluno. Cita um velho
erro de datação há muito corrigido que mesmo
assim não corresponde a tal data. Veja
Aqui o site de Paleantropologia de "clã" de
Richard Leakey e confira se ele apoia o Criacionismo.
Note que a referência fornecida é uma publicação tendenciosa, o autor jamais citaria qualquer fonte neutra.
E a afirmação de que Lucy é considerada um chipanzé é falsa, como qualquer profissional da área poderá confirmar e pode-se ver Aqui.
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Insiste no infelizmente fortíssimo equívoco do senso comum de que o
Homem veio do Macaco e ironiza os nomes científicos em latim. E o aluno criacionista alega ter
"surpreendentes" achados, de fato, pois tratam-se de alegações criacionistas há muito
tempo rechaçadas pela comunidade científica ou argumentos que sequer merecem atenção
de qualquer cientista sério.
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De novo as referências citadas são parciais. Os desenhos estão
caricaturados ao ridículo. Lucy é representada como um chimpanzé (com cauda?!) estilizado, e a
mentira é reafirmada (que jamais teve cauda). Só criacionistas alegam ser ela um chimpanzé. Vários outros
comentários sem qualquer base foram acrescentados. O
Homem de Piltdown foi fraude de oportunistas para ganhar dinheiro, há muito desmascarada pelos próprios cientistas.
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Mais uma vez o Neanderthal é erroneamente inserido e com um comentário absurdamente
mentiroso, e mais comentários infundados, aceitos apenas pelos criacionistas, são adicionados.
O Cro-Magnom sempre foi considerado um Homo sapiens, e por fim repete mais uma vez a máxima do senso comum,
acrescentando um versículo da Bíblia.
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O professor se mostra fraco, insinuando ser a Teoria da Evolução fundamentada
em bases frágeis. Só em sonho os argumentos apresentados
até agora possuiriam algum valor. A datação de fósseis e de rochas são realizadas por métodos
distintos, como degradação radioativa e análise de fragmentos. Leia aqui um
Texto Introdutório de
um paleontólogo, e depois se aprofunde mais no tema em:
Paleontologia.
O tal "raciocínio" circular é idéia Criacionista.
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O bravo aluno criacionista solta argumentos irrelevantes e mais referências
bíblicas são citadas. Como se fizessem sentido o professor desiste, muda de assunto e comete a
falácia do Declive Escorregadio, onde uma conlusão é tirada exageradamente de uma premissa.
Os dados a que se referem são de fato ultrapassados e não são mais considerados pela comunidade
científica, ao contrário dos argumentos criacionistas que nunca saem de uso por mais refutados
que já tenham sido.
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Veja com o professor é representado! Insinuando ser a Evolução, e toda a Ciência Moderna
na qual ela se baseia uma frágil e descuidada quimera. A explicação sobre órgãos vestigiais
está incompleta e o aluno refuta o argumento com uma afirmação irrelevante.
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Mais um "Declive Escorregadio", o tal órgão nada prova disso. O aluno rebate
com outra afirmação suspeita, embora seja fato que muitos órgãos antes tidos vestigiais tiveram
depois funções descobertas. Um dos pouco trunfos criacionistas com algum valor. Depois o aluno
demonstra outro erro comum, achar que "evolução" significa necessariamente "ganho"
quando na verdade é apenas mudança. "Perder" também faz parte da adaptação.
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E aqui o Ponto Alto da Hipocrisia. O aluno sai para o campo da Física
e faz uma afirmação abissalmente mentirosa. Quem disse isso?! Não cita nem mesmo uma fonte
criacionista! Os
Glúons são fortemente estabelecidos dentro do modelo atômico atual.
(Sobre Gluons
e Física Atômica).
Além disso seu comentário é ridículo, Também jamais se viu ou mediu um elétron. O aluno
declara que os Glúons não existem sabe-se lá com que autoridade. E o que isso tem haver com o assunto?
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Agora todo o festival de mentira descamba para a simples burrice. Os Prótons não se
repelem no Núcleo por quê? Não seria porque os Neutrôns os isolam!? Por isso eles
existem! Na verdade é mais porque o Núcleo não está exatamente submetido a força
Eletromagnética mas sim à Força Nuclear. O autor deliberadamente omitiu tais
fatos e construiu um raciocínio estúpido.
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Por fim, após a ridicularização da Ciência na figura do professor, o autor apela para
a autoridade Religiosa, assumindo de vez seu fundamentalismo cristão fanaticamente
compromentido e sem qualquer compromisso com a Razão. O professor lamuriento carrega seu
ridículo quadro, que aliás tal como a capa desta estorinha, conseque sintetizar com
perfeição seu nível mental.
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Mais uma vez insinua que a comunidade científica é intransigente e intolerante, algo
que pelo contrário, é facílimo de ser encontrado entre os Fundamentalistas Religiosos.
O professor, e sua suposta formação, foi completamente demolido por alguns minutos de
um diálogo que só mesmo na mente de tais criacionistas pode ser levado a sério.
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Agora me é difícil dizer se a conclusão é hilária ou patética. Mas pelo menos é
mais honesta. Apesar de coisas como a total desconexão da Ciência com a existência da alma.
A postura unicamente compromentida com dogmas e doutrinas teológicas é
revelada em toda sua plenitude, com direito a ameaças de danação eterna e objetivos que
passam longe da atividade pedagógica.
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E fechando com chave de ouro, mostra o verdadeiro motivo por trás de tudo. Nesse ponto
essa "obra" é mais honesta que outros exemplos de Criacionismo "Científico", ao menos assume
sua característica Religiosa. Ao contrário do que afirmam alguns Criacionistas,
NINGUÉM jamais se tornou criacionista graças a dados da natureza. A realidade, em
nenhum nível, apoia o Criacionismo. Por isso nenhuma instituição Criacionista faz
pesquisas ou experiências, nem contribui para o avanço científico.
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Como se pode ver, o autor apresenta um festival de desinformação, distorções, desonestidade e
falta de bom senso. Infelizmente esse caso não é uma exceção. Apesar do rebuscamento, da melhor
polidez e da cautela que muitos textos criacionistas se investem, sua essência em si é a mesma.
Não há chance de que tais argumentos afetem qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos
científicos, mas podem impressionar leigos, embora nesse caso específico seja necessária uma
pequena dose de preguiça em raciocinar.
Dessa forma, esse texto sintetiza muito bem o Criacionismo e sua "Ciência", é de fato
UM ÓTIMO EXEMPLO!
Marcus Valerio XR
31 de Janeiro de 2002
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